terça-feira, 29 de maio de 2007

A Margem Sul e o Ministro

Ora, o nosso Ministro das obras públicas meteu-se com a Margem Sul. Coitado, acredito que se soubesse o que sabe hoje, nunca o teria feito.
Mas diz o ministro que afinal “não foi isso que disse”, referindo que não chamou deserto á Margem Sul. Hum…

Defende-se o ministro:
«As pessoas quando não têm argumentos deturpam a realidade. Estávamos a discutir as localizações do aeroporto. Sei muito bem que Almada, Montijo, Setúbal têm gente… Estava a referir-me a Rio Frio, Poceirão e Faias, localizações alternativas do novo aeroporto na Margem Sul que, são «vagamente povoadas».
Toda a gente percebeu o que eu quis dizer. O deserto era a zona de implantação do aeroporto, não me estava a referir ao Norte do Alentejo na sua generalidade».

Agência Lusa a 23 de Maio de 2007

As palavras do Ministro encaixam bem naquilo a que eu chamo «caracterização do bom português», que são aqueles que têm de falar de TUDO, opinar sobre QUALQUER assunto mesmo que não saiba NADA daquilo de que se fala.
Mas este nosso Ministro estudou o quê, para saber tanto da Margem Sul?
Segundo a Página Web do Governo, o Engenheiro Mário Lino é Licenciado em Engenharia Civil pelo Instituto Superior Técnico (1965) e
Mestre em Hidrologia e Gestão dos Recursos Hídricos pela Universidade do Estado do Colorado (USA) (1972).
E agora percebo está explicado! O senhor Ministro está marcado pelas paisagens nevadas do Colorado, assim que qualquer extenção de terra sem um monte de neve ou sem um prédio lhe pareça um deserto. É claro que as zonas que o senhor Ministro se refere não povoadas, como Lisboa ou outros centros urbanos, até porque as ditas regiões, que fazem parte dos concelhos de Alcochete, Montijo e Palmela, são em grande parte abrangidas por reservas agrícolas, onde se cultivam muitas dos produtos que se come e bebe em Lisboa!

Mas até onde chega o (des)conhecimento do Ministro destas regiões?
Viajemos e verifiquemos:


Canha é uma freguesia do concelho do Montijo, com 207,73 km² de área e 1 907 habitantes (2001).
Canha teve foral dado por D. Afonso Henriques em 1172. Existe também o foral de 1235, dado por D. Sancho II, e o foral-novo, de D. Manuel I, concedido em 10 de Fevereiro de 1516. Foi vila e sede de concelho entre 1172 e 1836, sendo então integrado no município de
Montemor-o-Novo. Recuperou a categoria de concelho durante um curto período em 1838, sendo então integrado definitivamente no actual município.


Santo Isidro de Pegões é uma freguesia do concelho do Montijo
, com 55,33 km² de área e 1 454 habitantes (2001).
A sede da freguesia localiza-se em Pegões Velhos. As terras de Pegões foram povoadas em meados do século XX por casais vindos de outras parte do país, através do maior projecto de colonização interna realizado no território de Portugal continental.
A vinha foi uma das culturas desenvolvidas pelos colonos agrícolas. A Cooperativa Agrícola de Santo Isidro de Pegões, constituída em 1958, está na origem dos vinhos de Pegões, os quais têm sido premiados tanto a nível nacional como internacional.

Pegões – Cruzamento é uma freguesia do concelho do Montijo, com 28,09 de área e 2 104 habitantes (2001).
O território hoje pertencente à Freguesia de Pegões, foi desanexado da actual Freguesia de Canha, sede de concelho, até ao ano de 1838, e fez parte, desde 1186, dos domínios da Ordem de Santiago.
Pegões foi desde tempos remotos, local de passagem de viajantes e mercadorias entre Lisboa e o Alentejo, e mesmo Espanha, através do Montijo.
Por aqui passava a via romana, aproveitada, em parte, para a construção, na Idade Média, da que viria a ser conhecida por Estrada Real, que ligava Aldeia Galega a Vendas Novas.
Através da Estrada Real, atravessando Pegões-Cruzamento, passava a chamada mala-posta, primeiro serviço regular de transporte de passageiros e carga, para além de correio, entre Montijo e Badajoz, instituído em 1533, que se manteve em funcionamento até à inauguração da linha férrea de Leste (entre Barreiro e a fronteira espanhola, passando por Vendas Novas), verificada em 1863.
A partir dessa data, instalado que foi o apeadeiro de Pegões-Gare, a Freguesia de Pegões assume, progressivamente, um papel relevante no escoamento de produtos agrícolas e no transporte de passageiros, entre Lisboa e o Alentejo.


Poceirão é uma freguesia do concelho de Palmela, com 147,07 km² de área e 4 304 habitantes (2001). O Poceirão e a Marateca, sendo zonas rurais, são por isso consequentemente menos povoadas, não chegando a possuir 15% da população do Concelho. Tal fenómeno deve-se em parte a ocuparem uma posição central da Península de Setúbal, entre três das mais importantes áreas protegidas nacionais – o Parque Natural da Arrábida (PNA), a Reserva Natural do Estuário do Sado (RNES) e a Reserva Natural do Estuário do Tejo (RNET) –, os dois estuários e a serra, abrangendo zonas do PNA e da RNES, localização que não permite em grande medida, o crescimento populacional ao nível de outras zonas do país.


Rio Frio é a denominação de uma propriedade que em 1892 atingia 6000 hectares de vinha, que se estendiam desde Pinhal Novo até Poceirão. José Maria dos Santos era então dono de toda esta área e foi ele quem converteu uma charneca sem nenhuma cultura específica na que era considerada, para a altura, a maior vinha do mundo. Em 1904, conseguiu-se uma cultura de 16.500.000 litros de vinho, empregando-se três mil trabalhadores.
José Maria dos Santos mandou plantar naquela zona a que era na altura considerada como a maior vinha do Mundo. Mas não era só o vinho; também a cortiça e os cavalos faziam parte das actividades que ligam este local a outro tempo.
António Santos Jorge mandou construir o
Palacete de Rio Frio em 1909, em terreno herdado do tio José Maria dos Santos, um dos maiores latifundiários do final do século XIX e início do século XX.
Hoje este palacete está dirigido ao Turismo Rural, os hóspedes têm fácil acesso a Lisboa, através dos barcos do Montijo que fazem a travessia em apenas 30 minutos, ou através da nova ponte Vasco da Gama.

Chegados a este ponto, fica-me a duvida: será que a ignorância do senhor ministro se deve ao seu desconhecimento do Poceirão, Faias (Pegões) e Rio Frio ou é por não saber o que é um deserto!?
Bem, como este texto, mutatis mutantis, lhe foi enviado através do portal oficial do governo, fico á espera das suas respostas.

Para rematar: sorte é não ser professor, senão também já estava na rua!

Palácio de Rio Frio... isto será o oásis do deserto do Ministro. http://www.portugalweb.net/palmela/freguesias/pinhalnovo/palacriofrio2.jpg

1 comentário:

Anónimo disse...

A verdade é que os terrenos da Margem Sul não valerão nem uma enésima parte do que valerão os da Ota, vá-se lá saber porquê...
A Ota sempre tem mais couves e pés de alface que a zona mais rural da Margem Sul... isso é muito importante!