segunda-feira, 14 de maio de 2007

O Poder da Imagem

Já alguém dizia que “uma imagem vale mais que mil palavras” e quem pode desmentir?
Estava eu sossegadito na minha vida de estudante, quando num momento de descanso, dou uma vista de olhos pela televisão e eis que me deparo com uma cena do filme Cora Unashamed (2000), dirigido por Deborah M. Pratt.
O filme tem por protagonista Cora (Regina Taylor), uma criada negra da família Studevant, que por desgraça perde a sua filha, fruto de um “amor impossível”. Cora, sofrendo pela morte da filha, deposita todo o amor na pequena Jessie Studevant (Molly Graham), que encontra na “sua ama” o amor que lhe é negado pelos pais.
E a cena que me impressionou, vem nesta sequência.
Após a morte da sua amiga, a pequena Jessie vai até ao duplo baloiço onde costumavam brincar e senta-se no seu, mas sentindo a falta da sua companheira levanta-se do seu baloiço, vai até ao da sua amiga empurra-o e solta um beijo ao vento.
Dizia eu, que uma imagem vale mais que mil palavras e esta imagem, vale mais que mil discursos sobre “o que é a morte?”.
Uma das questões que nos colocam vezes sem conta, aos presentes e aos futuros sacerdotes, é precisamente as questões ligadas à morte.
É bonito ver como uma criança (5 anos) entende a morte da sua amiga. Ela não está ali, mas esta em toda a parte, corre no vento. Pode não estar ali, mas empurra o baloiço porque sabe que está presente de outra forma. Não está ali, mas não está ausente. De outra forma bem diferente, enfrenta Cora a morte da filha, primeiro revolta-se contra Deus e por fim encontra na pequena Jessie um escape para superar a sua falta.
A morte é uma experiência dolorosa e inclusive traumatizante. Por aqueles que amamos choramos. Contudo o que importa, é que as lágrimas que derramamos sejam por amor daqueles que se apartam de nós e não por nós mesmos.
Da mesma forma na película City of Angels (1998) dirigido por Brad Silberling, o anjo Seth (Nicolas Cage) diz que nem que fosse só por tocar em Maggie Rice (Meg Ryan) uma única vez, valeria a pena perder a condição angelical para se tornar homem.
Acho que tanto o personagem da pequena Jessie como o de Seth, ensinam-nos que a morte é uma condição natural do homem e não um fim em si mesma. Como percebe Jessie, é apenas esta passagem para uma “vida no Vento[1]”.
Quem dera que no meio das lágrimas, alegrarmo-nos do amor que demos àqueles que partem e dizer: “eu fiz-te e tu fizeste-me feliz”.
Acho que foi isto que a pequena Jessie disse, quando empurrou aquele baloiço e soltou aquele beijo.
O mesmo deve ter pensado Seth quando mergulha feliz nas águas do mar.
E para não estragar o poder da imagem, por aqui me fico!




[1] Vento em linguagem teologica é um símbolo do Espírito Santo. A propósito pode-se ler a obra: “O Vento Sopra Onde Quer” do Pe Luís Rocha e Melo. http://www.fundacao-ais.pt/produto.php?id=20

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